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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Dia de cão




Esta tem sido uma semana muito bagunçada. Embora o preço da tarifa seja o mais alto do Brasil, a falta de energia da Rede Celpa virou rotina com prejuízos no comércio local e na vida particular dos consumidores. A esses ainda acumula o sumiço da água na torneira sempre que a luz da Celpa vai embora (não se sabe para onde).
Na quinta-feira, morador da Folha 17 saiu do sério com empresa que faz podagem de qualquer jeito nas árvores inquinadas de provocar curto-circuito na rede. A terceirizada ancorou veículo com braço mecânico, ergueu por cima do muro e introduziu no jardim do cidadão dois homens armados de motosserra que imediatamente começaram a cortar galhos de oitizeiro e a deixá-los cair sobre os vasos de planta na garagem da casa.
Irritado, o cidadão sem água, sem luz e rua entulhada de lixo não recolhido pela prefeitura, saiu na calçada de arma em punho: uma câmera fotográfica a disparar flashes contra carro, alpinistas, galhos decepados. 
Azuado, lembrou que podagem anterior aproveitou-se de sua ausência e destruiu-lhe jardim, roupas no varal, vasos e estacas de orquídeas, deixando os entulhos que só foram recolhidos quando ele mesmo pagou braçais e carroças para esse serviço.
Um dos trabalhadores ponderou que eles apenas cumpriam ordens e o cidadão sem água, sem luz e rua entulhada de lixo disse entender e por isso não estava a referir-se especificamente a eles, mas à droga de concessionárias do serviço público sem um mínimo de respeito or quem quer que seja.
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos e cada qual seguiu seu rumo: os da motosserra não se sabe para onde; o cidadão cobriu o nariz com um lenço e enfrentou a podridão matinal do lixo espalhado no chão e a derramar-se das gôndolas cravadas na calçada das residências.




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