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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Qualquer semelhança com Marabá NÃO é mera coincidência

Um mar de lama e de irresponsabilidade com o dinheiro público

Esta imagem abaixo não é uma obra de arte, é uma obra produzida pela irresponsabilidade com o dinheiro do programa Minha Casa Minha Vida, recurso que sai de Brasília para ser dilapidado no âmbito local por aqueles que deveriam empregá-lo corretamente na construção de casas populares. A foto, feita pelo médico Erik Jennings, mostra um conjunto contraditoriamente chamado de Residencial Salvação, em Santarém, no qual foram enterrados 162 milhões de reais que agora estão aí, submersos na lama da chuva de ontem. Só um cego ou um mal-intencionado não sabia que esse era o destino dessa obra irresponsável, onde as casinholas têm até aquecedor de água sobre o telhado, em pleno mundo tropical, como mostra a segunda foto.
Na segunda foto, o aquecedor de água, num total de 3.081 aparelhos a um custo de cerca de 2 mil reais cada. Pra quê um equipamento desses em pleno calor amazônico? O que deveria ser arejado eram as casas, construídas ao deus-dará, com janelas para o lado oposto da ventilação do ambiente, como o leitor poderá constatar mais adiante, nesta matéria.
Foto: MDutra

Já vi coisa parecida em Marabá e em Benevides, na Região Metropolitana de Belém. Uma pergunta que precisa de resposta: o governo federal, que libera esses recursos, por ventura tem controle de como o dinheiro é empregado nos municípios? Outras perguntas: Quem faz esses projetos? Que tipo de arquitetura é essa, que constrói cubículos chamados de casas populares, com janelas opostas à ventilação do ambiente, com cômodos em que mal cabe uma cama, casinholas tão perto umas das outras e sem espaço para ampliação? Como eu escrevi neste blog várias vezes, trata-se de grave desperdício de dinheiro público na construção dessas favelas, pois esses projetos são, na verdade, voltados para a construção de favelas em que os barracos se parecem com casas.

A seguir, você, leitor, pode descer o mouse de seu computador e dar uma olhada em algumas das muitas reportagens que fiz e publiquei aqui a esse respeito. Leia e tire as suas conclusões.
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A humilhação persistente dos pobres. Um dia... (publicada aqui em 31 de março de 2013)

Serão esses conjuntos produto, já, do novo Brasil que se anuncia e que, de alguma forma, se renova? Renova pra quem? Para os mesmos de sempre? Para os pobres prosseguirá a humilhação historicamente persistente?



Fui até um conjunto de casas ditas populares, pomposamente e mentirosamente batizado de Residencial Salvação, pois melhor que o chamassem de Perdição. Como já escrevi neste blog, não é a primeira nem a segunda vez que vou a esse conjunto fruto do programa apelidado de Minha Casa, Minha Vida. Visitei coisas parecidas também em Benevides, na Região Metropolitana de Belém, e em Marabá. Em vez de Vida, esses amontoados de casinholas lembram Morte, tamanha é a falta de respeito para com as famílias que ali irão se entocar, pois menos que casa, aquilo é um aglomerado de tocas nas quais as famílias mais miseráveis irão se esconder da chuva e do sol até o momento em que puderem encontrar uma casa para residir com um mínimo de dignidade.

Não vou repetir o que já escrevi em outras postagens aqui. Casas desumanamente pequenas, cômodos em que mal cabe uma cama, sala exígua, tudo apertado. Construídas de modo uniforme, tipo a tradicional barraca-padrão que vez por outras as prefeituras inventam nas feiras, o que se vê ali materializada é a persistente tentativa de padronizar o povo, padronizar os sem-poder, tornar todos iguais como tentaram os colonizadores que chamaram os milhares de povos distintos e diversos apenas de “índios”. Uma forma concretada de enterrar a diversidade cultural do povo, fazer com que todos tenham os mesmos gostos e os mesmos rostos, impedir o riso e a alegria como fizeram os senhores das casas-grandes com as senzalas, proibindo os escravos de rirem, de cantarem e de ser eles mesmos.

Aqui mesmo em Santarém, os indígenas e seus descendentes que moravam no bairro da Aldeia, eram proibidos de cantar e dançar, tinham que ser todos iguais na tristeza e no desprezo da sociedade cujos descendentes têm o poder de construir as suas casas diversificadas, a seu gosto. Os que tentavam furar o bloqueio eram mandados de volta para o “seu lugar” pela polícia.

Outra forma de desumanidade é a excessiva proximidade de uma casinhola da outra, nessa tentativa de criar-se um novo conceito de favela. Enquanto no Rio de Janeiro as favelas vão sendo humanizadas e tornando-se lugar bom de viver, esses novos conjuntos trazem, no projeto, o contrário: barracos talvez até mais insalubres do que muitos barracos das clássicas favelas brasileiras. E com eles, a quase certeza de uma convivência social tão problemática quanto nas favelas que conhecemos.

Não há nem haverá privacidade para as famílias nessas tocas, posto que, de tão próximas umas das outras, as pessoas terão que falar baixo para não perturbar o vizinho, como se todos morassem num mesmo barracão apenas com algumas divisórias. E os aparelhos de som, o choro das crianças, a desavença que eleva a voz, as festinhas de aniversário, e o churrasquinho do fim de semana regado a cerveja e música alta? Como é e como será essa convivência? Esses conjuntos trarão paz aos pobres que estão inscritos no imenso outdoor onde se afirma que país desenvolvido é país sem pobreza?

Serão esses conjuntos produto, já, do novo Brasil que se anuncia e que, de alguma forma, se renova? Renova para quem? Para os mesmos de sempre? Para os pobres prosseguirá a humilhação historicamente persistente?

Um dia... os pobres darão a resposta.
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Arquitetura século 21 e os candidatos a flagelados (14 de junho de 2013)

Nas zonas ribeirinhas da Amazônia, na beira dos rios e igarapés, construir uma casa sem janelas ou portas para o rio é algo inteiramente contrário à natureza e à cultura locais. Essas casinhas do PAC/Prefeitura ou Caixa Econômica são uma falta de respeito às condições ambientais e culturais.

Como já dito aqui em outras postagens, as casas construídas pela Prefeitura de Santarém com recursos federais, no bairro do Uruará, parecem obedecer uma arquitetura contrária à natureza do ambiente onde se localizam. Como mostra a primeira foto, todas essas casinholas não têm janelas para a direção de onde vem o vento. Essa é tão somente uma das excrescências: tamanho reduzidíssimo, parecem mais esconderijos do que edificações para humanos.
Fotos: MDutra, 8.06.2013

O prosseguimento da construção do conjunto fez com que diversas casas fossem erguidas a poucos metros dos rios, ora o Tapajós, ora o Amazonas, justamente num período em que a cheia não foi tão grande (junho de 2013). Como mostram estas fotos, qual a garantia de que essas casas não serão invadidas pelas águas da próxima cheia? Qual foi o gênio que assim projetou esse conjunto? Na próxima enchente grande é possível que aí estejam morando (ou melhor se escondendo) famílias que serão tratadas como flagelados pela cheia "inesperada" do Tapajós./Amazonas Esperemos para ver!

Aqui nesta foto vê-se bem o rio, já baixando, e as casinholas sem janelas. Afinal, o que é a arquitetura? É uma ciência, é uma prática? É o quê? Sem ter estudado arquitetura, percebo que a ela é acima de tudo a adaptação da acomodação humana ao ambiente, levando-se em conta o solo e o seu relevo, o clima, a direção dos ventos, a vizinhança de cursos d'água, a vegetação, a acessibilidade, etc. e muito mais. Nada disso parece ter sido levado em conta no Uruará. A impressão que fica é que as empreiteiras já chegam com os "projetos" prontos, que tais empresas utilizam em qualquer parte do país, em qualquer clima, relevo, ambiente natural, etc. Um kit que não leva em conta as peculiaridades de cada terreno, mas é um único chapéu feito feito para qualquer cabeça, caiba ou não nas dita cabeças.

Será que aí em Santarém não existe uma ONG interessada em questões urbanas para questionar isso? Ou as ONGs só se interessam pelas florestas e pelos rios lá distantes, que tanto interessam também às multinacionais do meio ambiente e aos governos dos países industrializados? O Ministério Público, tão metido em quase tudo, por que não indaga a respeito desses conjuntos, tal como aquele da Rodovia Fernando Guilhon, mais parecido com um campo de concentração? Alguém já pensou, ao menos, em testar a qualidade desses materiais utilizados nessas casinholas?

Como se percebe, há mais perguntas do que certezas na feitura desses conjuntos de qualidade duvidosa, para dizer o mínimo.
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Lançamento imobiliário do ano! A casa dos seus sonhos
Ou como se debocha das famílias pobres (13 de maio de 2012)

Já visitei desses conjuntos “residenciais” em Benevides, na área metropolitana de Belém, emMarabá, e agora em Santarém. Pelo que vi, fico perplexo como o governo, nos seus três níveis, tem a cara de pau de festejar a construção desses amontoados de barracos de tijolos, ambientes indignos para uma família pobre morar.

Visão interna de uma das casas a partir da porta da sala: à esquerda dois quartos, à direita uma cozinha e um banheiro

Um dos conjuntos que se constroem em Santarém com verba federal administrada pela prefeitura local, fica no bairro do Uruará, a leste da cidade, perto do lago Maicá. Por alguma genialidade arquitetônica, os barracos não têm janelas para o rio, justamente de onde vem a ventilação.

O terreno mal estudado, as casas umas em cima das outras, isso impede a construção de janelas
para ventilação vinda do rio


Como em todos os outros, aqui as famílias terão que falar bem baixinho dentro de casa para não serem ouvidas pelo vizinho. Imagine o que significa ligar um TV, botar um som ou o choro de uma criança. Olhando esses ambientes fica a dúvida: onde há mais desumanidade, nos barracos de madeira de uma favela ou nesses tais conjuntos? As casas são exageradamente próximas umas das outras e uma nesga de terreno por trás talvez não dê para um novo cômodo, se assim desejar o morador.

Conjunto "residencial" do Uruará, em Santarém: um novo conceito de favela?

As “casas” têm dois quartos medindo 2,67m por 2,78m. As mesmas medidas da “sala”. Uma cozinha mais menos com essas dimensões e um banheiro. E assim se debocha dos pobres, com as empreiteiras fazendo a festa e o governo anunciando ao mundo que está acabando com as favelas no Brasil!
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Proibida a entrada neste "magnífico" conjunto "residencial" (6 de novembro de 2012)

Na mais recente vez em que estive em Santarém, no dia 27 de outubro, fui impedido de entrar no canteiro de obras do programa Casa Deles, Vida Deles, aliás, Minha Casa, Minha Vida, localizado à margem da Rodovia Fernando Guilhon, à esquerda de quem vai da cidade na direção de Alter do Chão. É uma obra pública, porém a empreiteira não quer visitas indesejáveis. Por que? Tem algo a esconder?
Fotos: MDutra

Talvez não queira que eu publique o que publiquei sobre outros conjuntos semelhantes, quando afirmo que, a despeito da necessidade dos mais pobres, esses conjuntos inauguram um novo conceito de favela, como o conjunto do bairro do Uruará, também em Santarém. Até as janelas das casas daquele conjunto do Uruará estão na posição contrária ao vento. Outra questão: por que, na construção desses conjuntos, a primeira coisas que as empreiteiras fazem é raspar o chão, tiram toda a vegetação e erguem aqueles fornos a que chamam de casas?

Sem vegetação, aí está esse aglomerado de barracos chiques. Tão perto uns dos outros, que é previsível a relação dos moradores, como se verifica nas baixadas de Belém e em quase todas as favelas apertadas: brigas por causa do barulho de aparelhos de som. Um pequeno barulho dentro de uma dessas casas vai direto para a casa vizinha, cerca de 4 metros distante.

Há os que dizem: os pobres precisam, isso é melhor do que nada ou melhor do que um barraco de favela. Não deixam de ter alguma razão, mas não podemos desconhecer que isso significa pouco mais que uma esmola a milhões de famílias de trabalhadores. Esse tipo de conjunto "residencial" e essas casas não resgatam a decência devida pelo Estado brasileiro aos trabalhadores.

Você, que mora numa casa boa ou num bom apartamento, vá lá, ver de perto. Se não o deixaram entrar, dá para ver pela cerca de arame farpado, como eu fiz. Sobre um novo conceito de favela, leia este link a seguir, que escrevi há poucos meses. No bairro do Uruará as “casas” têm dois quartos medindo 2,67m por 2,78m. As mesmas medidas da “sala”. Uma cozinha mais menos com essas dimensões e um banheiro. E assim se debocha dos pobres, com as empreiteiras fazendo a festa e o governo anunciando ao mundo que está acabando com as favelas no Brasil!: LEIA MAIS AQUI.


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Em Santarém, a construção do inferno (13 de agosto de 2013)

QUEM QUISER VER LOGO COMO ISSO TUDO VAI FICAR, QUE VENHA A BELÉM DAR UM PASSEIO PELA AVENIDA ALMIRANTE BARROSO E PELA BR-316 ENTRE SÃO BRAZ E MARITUBA. ASSIM FICARÁ A "PÉROLA". 

 Será que ninguém vai fazer um vemprarua pensando no futuro da sua cidade? Ou as seguidas manifestações pelo Pará e o Brasil afora continuarão com temáticas relativamente abstratas e sem o pé no chão onde todos pisamos?
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O mais recente levantamento populacional do IBGE, no Pará, indica que o município de Santarém está encolhendo, tanto em território como em número de habitantes, agora com 289 mil pessoas. No censo de 2010 eram 295 mil moradores. Logo será superado por Marabá, hoje com 252 mil. Se o deputado Antônio Rocha conseguir transformar a Vila Curuai em sede de seu reino, o município de Santarém ficará ainda menor, depois de perder território e população com a criação dos municípios de Placas, Belterra e Mojuí dos Campos. Na cidade corre a piada segundo a qual, pelo andar da carruagem, dentro de algum tempo o território de Santarém ficará circunscrito ao perímetro entre a Praça da Igreja Matriz e o Bar Mascote, incluindo a casa do Maestro Wilson Fonseca.
Fotos: MD
Chico Ceará, ou Francisco Moreira, 91 anos, sem-teto, se acomoda aí, nesses monte de madeira podre, bem perto do Residencial "Salvação". Diz que não terá uma casa e não sabe explicar por que
Ao mesmo tempo, contraditoriamente, a cidade incha por dentro, com a construção destrambelhada de duas outras cidades dentro da atual malha urbana. Já quase pronto está o conjunto "habitacional" chamado jocosamente de Residencial Salvação, onde se esconderão cerca de 13 mil habitantes, se todas as 3.081 casinholas forem ocupadas e cada uma tiver entre 3 e 5 moradores. Se o "loteamento" da Burriti vingar, com outros 20 mil lotes do outro lado da Av. Fernando Guilhon, serão outros 70 mil habitantes em potencial, talvez um pouco menos, pois nesses casos haverá algum remanejamento de população já residente, porém o excesso de moradias com certeza será um chamariz para a vinda de mais famílias de outros locais, como já se verifica hoje. Serão duas novas cidades dentro da atual Santarém.
O conjunto para 13 mil moradores tem aquecedor solar, mesmo numa região de temperatura média de 30 graus
Se isso acontecer, os atuais moradores terão saudades dos problemas infraestruturais que hoje aquela cidade do Oeste paraense enfrenta. O acúmulo de moradias quase na mesma área, nas duas laterais da Av. Fernando Guilhon, somado à construção de um shopping center nas proximidades, o fluxo de carros que demandam o aeroporto e as praias de Alter do Chão, Maracanã, Pajuçara e Ponta de Pedras, a construção de uma escola profissionalizante, além da densa ocupação já existente entre as avenidas Cuiabá e as novas áreas - o que está se preparando ali na entrada de Santarém é um inferno. Se nada for feito a tempo, ali será um perfeito laboratório de tudo que não se deve fazer numa cidade, com o acréscimo de que hoje o município é governado por um prefeito que passou décadas falando em "planejamento estratégico", seja lá o que isso possa significar.
Hoje, a Avenida Fernando Guilhon está assim. Logo mais isso deixará saudade, se o "planejamento estratégico" prosseguir como está
Mas alguma coisa ainda pode ser feita e que está sendo tentada por um grupo de associações populares, no sentido de impedir o prosseguimento do loteamento Buriti que, além de já estar poluindo igarapés e o Lago Juá, ameaça transformar-se num imenso favelão de consequências imprevisíveis. Há duas semanas um grupo de manifestantes encarou o pastor Feliciano na Praça de São Sebastião, num embate sobre homofobia. Será que ninguém vai fazer um vemprarua pensando no futuro da sua cidade? Ou os seguidos vempraruas pelo Pará e o Brasil afora continuarão com temáticas relativamente abstratas e sem o pé no chão onde todos pisamos?
Casas muito pequenas e tão próximas umas das outras. Só ficará aqui
quem não tiver outra alternativa contra o relento. Mesmo assim,
chamariz para a migração crescente
O programa habitacional federal. Será que é isso mesmo ou é a responsabilidade local?

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