Emmanuel
Wambergue*
Vocês
sabiam que sem-teto andavam de Hillux, de Pajero e outros carros? Vocês sabiam
que sem-teto têm tratores de esteiras? Vocês sabiam que sem-teto têm condições
de pagar pedágio com taxa de R$ 200,00?
Pois se
Hillux, Pajeros, tratores e pedágios não são de sem-teto, o que está
acontecendo lá no CAT/FATA é uma assalto, ou seja, é um caso de polícia e,
ainda, os sem-teto são apenas massa de manobra de mandantes manipuladores.
Os mandantes do assalto sabem que o Centro Agroambiental
do Tocantins (CAT) foi um programa da Pró-reitoria de Extensão da Universidade
Federal do Para (UFPA) montado em 1987 em negociação com os Sindicatos de Trabalhadores
e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Marabá, Itupiranga, Jacundá e de São João do
Araguaia.
Os
mandantes do assalto sabem que, para executar esse programa de pesquisa, de
formação e de ações de desenvolvimento, os membros do CAT criaram a Fundação
Agrária do Tocantins Araguaia (FATA) representando a Agricultura Familiar através
dos STTR do Sudeste do Pará e o Laboratório Sócio Agronômico do Tocantins (LASAT)
representando os pesquisadores da Agricultura Familiar.
Os
mandantes do assalto sabem que o terreno pertence à FATA desde o dia da sua
criação, 1 de agosto de 1988, que só foi permitido como fundação pelo
Ministério Público porque tinha um fundo, no caso, o título de terra. Os
manipuladores sabem que a FATA é dirigida, hoje, por um conjunto de 17 STTR.
Os
mandantes do assalto sabem que o projeto arquitetônico da FATA foi elaborado
pela UFPA, apresentado e aprovado em 1991 pela Comunidade Europeia e construído
com acompanhamento dos professores/engenheiros e seus alunos em 1992.
Os
mandantes do assalto sabem que 57% do terreno têm declinio de mais de 45%,
inclusive com perigoso boqueirão vertical de mais de 35m; que 84% da área são
de mata original com recuperação por regeneração natural de exatamente 25
anos.
Os
mandantes sabem que a parceria FATA/LASAT deu origem aos primeiros trabalhos de
Pesquisa/Desenvolvimento/Ação (PDA) através de ações-testes escolhidas e
executadas por Grupo de Interesse Local
(GIL) nas áreas dos posseiros, hoje com
mais de 200 assentamentos no sudeste do Pará; eles sabem que da FATA nasceram a
cooperativa de prestação de Serviços (Copserviços) e os primeiros serviços
comunitários de grupos de viveiros, de hortas, de galinheiros, de apicultura,
alimentação alternativa, agroecologia,
reforçando a criação das delegacia sindicais e, mais tarde, as
associações...
Os
mandantes do assalto sabem que da parceria FATA/LASAT nasceram os cursos de
especialização de Desenvolvimento da Amazonia (DAZ), o Núcleo de Estudo da
Agricultura Familiar (NEAF) da UFPA, que hoje tem curso de mestrado, inúmeras
pesquisas de campo, formação/capacitação e estágios de convivência de agrônomos
florestais realizados na FATA.
Os mandantes
sabem que da FATA nasceram os grupos de venda em comum de arroz, castanha,
feijão, urucum, cujo conjunto criou em 1993, a Cooperativa Camponesa do
Araguaia Tocantins-COCAT, hoje Federação das Cooperativas do Araguaia-Tocantins
(FECAT), integrada por sete cooperativas.
Os
mandantes do assalto sabem que dos vários encontros de jovens, na FATA, foi
criada em 1996 a Escola Família Agrícola (EFA), escola da pedagogia da
alternância do ensino fundamental do Campo; eles sabem que se formaram, na
FATA, pelo Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (PRONERA), duas
turmas de técnicos nível médio com especialização em agroecologia.
Os
mandantes do assalto sabem que a FATA foi palco da criação do Fórum da Educação
do Campo (FREC), conjunto de movimentos sociais, organizações civis e entidades
de pesquisa/ensino público, que permitiu a criação do IFPA/CRM no PA 26 de
Março, a 25 km de Marabá.
Os
mandantes do assalto sabem que, nesse último ano, foram realizados vários
módulos da Escola Nacional de Formação da CONTAG com turmas estaduais de mais
de 60 sindicalistas- estudantes.
Os mandantes
do assalto sabem porque pararam a EFA e o PRONERA na FATA:
- em 2009,
a FATA sofreu uma tempestade violenta que derrubou inúmeros árvores sobre telhados,
rede elétrica e estrada, sem felizmente machucar nenhum dos 160 alunos
presentes, e que isso levou tempo para consertar os prejuízos;
- em 2010,
a EFA ensino fundamental parou por causa do corte da verba de alimentação por
parte da prefeitura, embora a pedagogia da alternância exige a presença tempo
integral dos alunos durante 15 dias na escola e 15 dias na suas
roças/comunidades!
- em 2010, depois da criação da Escola Técnica,
ou seja Instituto Federal do Pará, Campus Rural de Marabá (IFPA/CRM), o curso
do ensino médio de técnicos em agropecuária foi para lá transferido.
- em 2011,
a Vale do Rio Doce informou à FATA que ela seria em parte desapropriada para
receber a ferrovia da ALPA e o desvio da Transamazônica, portanto impedida de
mudar qualquer infraestrutura.
Os
mandantes do assalto sabem que aconteceu uma reunião na FATA na primeira semana
de abril desse ano, com a presença do secretario nacional da CUT, do atual
prefeito de Marabá, dos presidentes das CUT do Pará e Maranhão, presidentes de
vários Sindicatos de ferroviários e dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do
Pará, Tocantins e Maranhão, representantes do Banco do Brasil e dois da Vale do
Rio Doce. Nessa reunião foi apresentado a história da FATA e aprovado um novo
projeto de capacitação para agricultura familiar.
Por fim,
os mandantes do assalto sabem que a prefeitura de Marabá já investiu, no inicio
desse mês, na recuperação das estradas e limpeza da FATA; eles sabem que, no
ano passado, uma primeira licitação permitiu a reforma dos prédios das salas e
das secretarias pelo PROINF via Caixa Econômica
e que já está marcada para esse mês uma segunda licitação.
Já que os mandantes do assalto à FATA afirmam
que seu objetivo é resgatar um projeto ambiental parado, o que estão fazendo lá
derrubando matas originais, entupindo nascentes de água, acabando com a escola
da floresta visitada por inúmeros alunos das escolas publicas de Marabá? Se
eles pretendem resgatar o projeto parado, o que eles vão fazer com o projeto parado
da ALPA, ao lado da FATA?
*Agrônomo
aposentado, 25 anos de trabalho e colaboração com a FATA