Ele estava recém-saído do Exército
quando de vez em quando nos encontrávamos em campo, no Zinho Oliveira. Depois
eu sumi no mundo e passaram-se duas ou três gerações sem nos vermos.
Em 1988/89, Rui Castro, João Chamon
Neto, Célia Piagno, Mário cinegrafista e eu fomos contratados para organizar o
setor de jornalismo da TV Liberal em Marabá, um capítulo à parte na história da
imprensa desta cidade. Foi nessa época que o reencontrei.
Eu tinha em torno de 40 anos e
comecei a sentir uns formigamentos na extremidade dos dedos da mão. Por conta
de convênio médico, acabei fazendo consulta na Clínica do Dr. Veloso e quem me
atendeu foi justamente Silvino Santis. Ele passou uma infinidade de exames,
findo os quais diagnosticou com seu jeitão calmo: triglicérides, pressão alta,
excesso de peso. Até hoje me lembro do diálogo que veio a seguir:
- Vamos ter de cortar umas coisas
aí, disse ele. O sal em excesso, a carne vermelha, o camarão, o...
- Doutor, se o senhor cortar minha
aguardente, eu corto o pulso primeiro.
- Também não precisa exagerar, disse
ele, erguendo as duas mãos abertas na minha direção. Quer beber, tome vinho,
vodca, beba destilado...
- Eu vou beber deste lado e do outro
também, doutor. Era só o que faltava!...
Ele me olhou sério, escondendo o
riso:
- Tá bom, não vou passar remédios,
mas você vai ter que fazer caminhada 45 dias.
Juro pela hóstia consagrada que
caminhei os 45 dias. Foi duro no começo, mas caminhei. Todo santo dia eu saía
cedo da Folha 17, passava pela Acrob, ia até em frente à Rádio Itacaiúnas.
Descia pela PA-150 até à entrada do Km-07, entrava pela via da Transbrasiliana,
quebrava na feira da 28, varava a Folha 20 pela grota Criminosa até chegar à
17. No 46º dia voltei à clínica. Alegre, Silvino me verificou a pressão, a cor
da pele queimada e enxuta. Quando me fez subir à balança, estranhou:
- Que merda é essa? Você engordou 5
quilos! Como se explica isso?
- Eu não sei, doutor. Fiz o que o
senhor mandou.
Por insistência dele contei o
roteiro: vou assim, assado, entro por ali.
- Pera lá, pera lá, disse ele. E que
acontece quando você passa na feira da 28?
- Ora, Silvino, como um quilo de
cuscuz de arroz com óleo de coco babaçu, tomo cinco cervejas e vou de táxi pra
casa...
Nem lhes conto o palavrão que ele
soltou. Brigou, esculhambou, acusou-me de brincar com a saúde. Saúde é coisa
séria, repetiu amuado. Eu não dei um pio, fazer o quê?
Anos depois, eleito parlamentar, fui
seu assessor. A capacidade de trabalho e sua dedicação sobretudo às questões da
saúde, aí incluída a criação do Consórcio Intermunicipal de Saúde do
Araguaia/Tocantins, Cisat, valeram-lhe o título de melhor vereador de
Marabá.
Semana passada meu amigo Silvino
Santis faleceu após prolongada enfermidade.
Não fui a seu enterro.
Não me dou bem com doenças e morte.
Prefiro lembrar-me do amigo de coração de manteiga escondido sob a falsa sisudez.
Não fui a seu enterro.
Não me dou bem com doenças e morte.
Prefiro lembrar-me do amigo de coração de manteiga escondido sob a falsa sisudez.
3 comentários:
Parabéns Pagão, o Silvino é tudo isso que você descreveu,Uma tristeza, Adeus Ana Paula.
Parabéns Ademir, parabéns!!!
Tu tens(desculpa o modo imperativo) que colocar todas estas histórias que vivenciastes em um livro, é a tua obrigação, aliás, o teu dever!! como escreveu o Pound, os artistas são as antenas da raça, e tu é, na minha opinião, o mais marabaense de todos os marabaenses.
Grande abraço!!!
Marcio Mazzini
Ademir me dê uma orientação por favor..Tem uma senhora chamada de Claudia que é dona de uma empresa chamada de CAK que fez maracutaia o governo todo do maurino e q acho que está prestando serviço pro JS, ela ficou me devendo 16.000,00 de aluguel do meu carro e o meu era o único que trabalhava de verdade. eu soube que no inicio do ano ela recebeu tudo que tinha pra receber após ter feito um acordo com JS..engraçado que os carros que eram fantasmas todos receberam direitinho..mas os que trabalhavam realmente ficaram a ver navios... oque faço, estou no desespero...
contato: saul.soares@bol.com.br
Peço descriçaõ por favor não publique..
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