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sexta-feira, 4 de maio de 2012

E lá se foi Pedrinho...

No Correio do Tocantins:

03/05/2012
 Pedro Morbach já não desenhava há pelo menos 3 anos
 
Um dos gênios das artes plásticas do Pará e herdeiro de outro grande nome, Pedro Morbach morreu na noite de segunda-feira (30/4), em Castanhal, após uma parada cardiorrespiratória. Ele tinha 76 anos e teve uma vida pautada pela simplicidade e pelo registro da história do seu tempo por meio dos quadros em nanquim. O corpo foi sepultado na terça-feira (1°/5), no cemitério Recanto da Saudade, em Belém.
Pedro era filho do também artista plástico Augusto Morbach e irmão de Rômulo, José Arthur e Frederico Morbach (in memoriam), este último jornalista e por muito tempo articulista deste Jornal CORREIO DO TOCANTINS.
O CT apurou que Pedro lutava há um ano contra um câncer no intestino, o qual não pode ser combatido com uma cirurgia devido à idade avançada e condições físicas fora do ideal do paciente. Casado já em idade madura, ele não teve filhos e também ficou viúvo prematuramente. Nos últimos anos, Morbach vivia em uma Casa de Repouso em Castanhal e era visitado constantemente pelo irmão José Arthur, que é médico. O outro irmão vivo, Rômulo, mora em Brasília (DF).
Segundo Íris Morbach, viúva de Frederico, irmão dele, Pedro teve uma morte tranquila, sem sofrimento. Ela destaca que ele já não pintava há pelo menos três anos, período que coincide com a morte da mãe Doralice Morbach. “Tínhamos uma convivência muito boa. Ele era a pessoa mais simplória que eu já conheci”, disse dona Iris ontem ao CORREIO, após ter participado do funeral do ex-cunhado.
ARTE
Um dos precursores das artes visuais na região e conhecido nacionalmente com a técnica de obras em nanquim, o Pedro Morbach começou a desenhar ainda criança recebendo influência direta de seu pai.
Embora não tenha participado de nenhuma escola de arte, fez de seu trabalho um reviver das raízes culturais de Marabá, retratando em óleo sobre tela, fatos importantes de nossa região, como a abertura da rodovia Transamazônica (1974). A predominância de suas obras é em nanquim e nelas Pedro retrata a vida do povo ribeirinho, o folclore, o castanheiro, o posseiro e a paisagem humana dessa região tão conhecida pelo artista.
De acordo com Cátia Weirich, responsável pela exposição recente de trabalhos do artista, com seus belíssimos trabalhos Morbach exerceu enorme influência sobre os jovens artistas da região. Cátia ainda ressalta que Morbach já expôs em grandes centros culturais como Belém, Brasília (DF), São Paulo (SP) e até em Berlim, na Alemanha.
Pedro Morbach também é homenageado com seu nome batizando a Pinacoteca Municipal de Marabá, devido à importância de seu trabalho e por ter sido ele o primeiro artista a contribuir para início do acervo da pinacoteca. (Patrick Roberto)


Morte de Pedro Morbach repercute

A morte de Pedro Morbach é muito lamentada em Marabá, onde sempre foi um ícone da cultura regional. Abaixo, alguns comentários sobre o passamento do artista:

“Pedro Morbach foi um artista além do seu tempo e sua morte prematura é uma grande perda para a cultural regional e será sentida por toda a classe artística que se espelhou em seus trabalhos que são referência nas artes visuais.
Pedro retratava como ninguém o nosso cotidiano numa época em que a fotografia não era tão difundida. O artista através das suas iconografias perpetuou personagens típicos da Amazônia como o garimpeiro, o pescador, o castanheiro, entre outros.
Ele também foi um grande defensor da natureza regional por retratar em suas obras a fauna e flora típicas da nossa região preservando assim para as futuras gerações esse grande legado natural.
Espero que as obras de Pedro continuem por muito tempo encantando a sociedade marabaense e para homenagear este grande artista mesmo antes da sua morte a Fundação Casa da Cultura de Marabá estava com uma exposição intitulada o ‘Nanquim Amazônico’, que irá circular em varias cidades do Maranhão e que tem como personagem principal Pedro Morbach, grande ícone desta linguagem artística tão difundida em nossa região”. (Noé von Atzingen - presidente da Fundação Casa da Cultura)
“A nossa terra tem sido pródiga em ingratidões com os seus valores intelectuais, artísticos e morais. Rapidamente, lembro-me de Joãozinho Seriema, Iran Monção, Frederico Morbach, Eduardo Abdelnor, Augusto Bastos, Sinhozinho Morbach, Augusto Morbach, Azizinho Mutran, Coutinho, Pedro Vale, João Maria Barros, Mario Mazzini, entre outros que me fogem à memória e que se destacaram na pintura, nas letras, no teatro ou foram paradigmas de honradez na vida pública, como Pedro Marinho de Oliveira, Dionor Maranhão, Raimundo Rosa (também nas letras), Raimundo Cunha, para falarmos apenas de quem não está mais conosco. Por outro lado, se você percorrer os bairros mais novos, vai encontrar ruas e mais ruas homenageando pessoas ainda vivas, num flagrante desrespeito à lei, que proíbe tais homenagens. Agora foi o Pedrinho Morbach, glória das artes paraenses, que tem seu umbigo enterrado nas barrancas do Tocantins e viveu seus últimos anos esquecido de quantos passaram pelo poder em nossa terra. A nossa história verdadeira está morrendo com os nossos antigos e isso é lamentável. Pergunte a um jovem estudante de Marabá sobre algum destes nomes que citei acima, ícones de nossa estruturação social, intelectual e artística e ele os desconhecerá solenemente. (Plínio Pinheiro Neto - advogado)
“Morreu ontem (segunda, dia 30), aos 76 anos de idade, em Castanhal, o artista plástico Pedro Morbach. Era meu tio e filho de meu avô, Augusto Morbach. Ambos desenhistas e grandes mestres do nanquim. O exímio desenhista se foi na solidão e na quietude de seus muitos anos sem pintar, sem desenhar, e sem nos contar as velhas estórias sobre os castanhais nativos de Marabá.
A Casa da Cultura de Marabá tem um belo acervo de Pedro Morbach. E a Galeria Elf, de Lúcia Chaves, é proprietária de alguns dos belos desenhos do pintor”. (Marise Rocha Morbach - no blog Flanar)

Um comentário:

Plinio Pinheiro Neto disse...

Caro amigo e colega Ademir Braz.

O Pedro Morbach tinha a simplicidade e a desambição dos que tem real conhecimento da verdadeira dimensão do seu valor.Por transcenderem em muito os limites normais do conhecimento, são como alienígenas, como aves fora do ninho e porisso ele era tão arredio e avêsso às homenagens.Conheço outros assim e os tenho bem próximos, como amigos e colegas, e tu, não conheces?Tenho profundo respeito pelas pessoas que construiram a história de nossa terra e sem dúvida nenhuma, nas letras, na arte, no comércio e na política (Frederico) os Morbach contribuiram e continuam a contribuir de forma expressiva.Um grande orador paraibano, Alcides Carneiro, dizia que se recusava a abaixar seus olhos para fitar anões, mas os levantava, admirado, para fitar gigantes.Assim é comigo, quando olho para o passado e admiro o trabalho de nossos pioneiros e de todos que trabalharam para que Marabá seja, nos dias de hoje, este marco de civilização que tanto nos orgulhece.Lembro-me de todos eles,exercendo os mais variados ramos de atividade e lhes sou muito grato por tudo que fizeram. Lembro-me dos passadores (canoeiros) que todas as manhãs levavam à outra margem do Itacaiunas a juventude de Marabá, para amealhar conhecimentos no Colégio Santa Terezinha. Das dominicanas que edificaram os alicerces de nosso saber? madre Margarida, irmã Zoé, irmã Rita, irmã Lais, irmã Alexandrina e sua maravilhosa voz, irmã Celina e tantas outras.Tu e eu, particularmente, somos muito gratos a irmã Zoé, pois sua paciencia nas aulas de português, fez de ti um admirável manuseador das letras e de mim um razoavel escrivinhador.Tenho insistido junto aos Prefeitos, ao longo de décadas, para elevarem em nossa cidade um monumento em homenagem ao castanheiro, este homem simples, que durante muito tempo alavancou a economia de nossa terra, enfrentando os perigos da mata, os indios bravios de então e a malária.Na verdade, os escaninhos de minha alma guardam o tesouro do mais fino ouro da admiração e gratidão aos gigantes de nosso passado e para relembrá-los, citá-los e agradecer-lhes o espaço que nos concede o estimado amigo Hiroshi Bogea e o Quaradouro, seria e é muito pequeno.