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quinta-feira, 5 de julho de 2007

Entidades denunciam despejos

“A grave crise fundiária do Estado do Pará não se resolverá com cumprimento de mandados judiciais ou ações da Polícia Militar. A solução para esta questão exige a efetivação crescente de políticas sociais no campo e nos centros urbanos, bem como uma intervenção séria e permanente quanto à existência de milícias armadas, que são a retaguarda do latifúndio atrasado que caracteriza a nossa região. Da mesma forma, a realização de um levantamento cartorial de todas as áreas, já que se suspeita da ocorrência de grilagem em grande parte das áreas de despejo. Enfim, um olhar mais cuidadoso e comprometido com a efetivação dos direitos humanos é o mínimo que a sociedade brasileira espera para início do enfrentamento deste problema social tão grave.” O entendimento consta de carta-denúncia divulgada à imprensa nesta quinta-feira pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SDDH, Comissão Pastoral da Terra – CPT; Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST; Federação dos Trabalhadores da Agricultura – Fetagri; e Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar – Fetraf. As entidades temem deparar-se com a possibilidade “concreta do Estado do Pará conquistar novo ranking nacional na violação aos Direitos Humanos”, constatação que se dá “pela Ação Especial da Polícia Militar de cumprimento dos mandados judiciais de Reintegração de Posse em latifúndios do Estado, o que levará a uma situação crítica e de maior vulnerabilidade às milhares de família sem terra nas regiões sul e sudeste do Estado do Pará que serão expulsas do direito de conquistar direitos.” A Polícia Militar e o Oficial de Justiça da Vara Agrária de Marabá já efetuaram despejos forçados em 06 (seis) fazendas da região de Marabá, colocando nas estradas, no desabrigo e na desesperança cerca de 380 famílias sem-terra. Cinco ordens de reintegração de posse expedidas pelo Judiciário Paraense, através da Vara Agrária de Marabá, ainda estão com risco de serem efetivadas, quais sejam: Fazenda Reflorestamento Água Azul II – Breu Branco; 2. Fazenda Mutamba – Marabá; 3. Fazenda Santa Maria – Eldorado dos Carajás; 4. Fazenda São Marcus – Parauapebas. Temos clareza de que a grave crise fundiária do Estado do Pará não se resolverá com cumprimento de mandados judiciais ou ações da Polícia Militar. A solução para esta questão exige a efetivação crescente de políticas sociais no campo e nos centros urbanos, bem como uma intervenção séria e permanente quanto à existência de milícias armadas, que são a retaguarda do latifúndio atrasado que caracteriza a nossa região. Da mesma forma, a realização de um levantamento cartorial de todas as áreas, já que se suspeita da ocorrência de grilagem em grande parte das áreas de despejo. Enfim, um olhar mais cuidadoso e comprometido com a efetivação dos direitos humanos é o mínimo que a sociedade brasileira espera para início do enfrentamento deste problema social tão grave. Neste sentido, temos como imperiosa a necessidade de intervenção deste Órgão para dirimir dúvidas quanto à exata localização das áreas pleiteadas pelos pretensos proprietários para que se evite a continuidade de execuções judiciais injustas e, o mais grave, a ocorrência de sangrentas e irreparáveis violações aos direitos humanos em flagrante situação de risco social.

Falando no deserto

Um Distrito Florestal Sutentável (DFS) é um complexo geoeconômico e social estabelecido com a finalidade de definir territórios onde serão priorizadas a implementação de políticas públicas que estimulem o desenvolvimento integrado com atividades de base florestal. No distrito são desenvolvidas ações coordenadas de políticas públicas dos diversos setores do governo para fomentar a atividade florestal em bases sustentáveis, incluindo política fundiária, de infra-estrutura, de desenvolvimento industrial, de gestão de áreas públicas, assistência técnica e de educação, entre outros. Este é o entendimento que o Ministério do Meio Ambiente vai repetir, mais uma vez entre nós, sexta e sábado na sede da Fundação Agrária Tocantins Araguaia (Fata), km-9 da Transamazônica. O encontro terá a participação de, além da equipe do Ministério do Meio Ambiente, lideranças dos movimentos sociais ligados à agricultura familiar e às populações tradicionais do Sudeste Paraense. O MST já disse que não vai. Não concorda com a destinação de áreas agricultáveis para o plantio de eucalipto para socorrer madeireiras e guseiras falidas.

Eldorado

A chamada Chacina de Eldorado dos Carajás, ocorrida em abril de 1996, ganha mais uma publicação nacional. trata-se agora do livro "O Massacre – Eldorado do Carajás: uma história de impunidade” (Editora Planeta)", do escritor Eric Nepomuceno, segundo ele, “a reconstituição mais ampla que foi feita até agora”, a ser lançado dia 25/7, às 19h30, em São Paulo, com um debate no Teatro-Auditório do Sesc Paulista.

Django

A pretexto de apoiar o projeto Serra Leste, Sebastião Curió reuniu-se com representantes da Vale do Rio Doce no garimpo de Serra Pelada, onde a mineradora é vista historicamente com a mais extrema desconfiança. Em seu discurso pró-Vale, a certa altura o prefeito de Curionópolis empolgou-se e desabafou: “Até hoje, com mais de 27 anos que defendo e trabalho em Serra Pelada, eu jamais disse uma mentira aos garimpeiros!” “O estrondar das vaias, cabôco, quase faz um terremoto no garimpo. Até o lagão tremeu!”, comentava esta semana um garimpeiro numa rodada na Cidade Nova. “O Curió chorou, cabôco, de dar dó. Eu não sei se de raiva ou de decepção.” Mas, prossegue o narrador, vai que findo o encontro o prefeito saiu de carro, foi à sua casa, não demorou muito e voltou com sua arma inseparável, uma Glock 45, importada, de uso privativo das Forças Armadas, e postou-se no Bar do Léo, bem à frente da sede da Coomigasp. Pagou uma rodada de guaraná e soltou os cachorros: “Se tiver homem aqui, que apareça!” Furioso, transtornado, diz o garimpeiro que Curió “parecia um leão enfurecido, velho e decadente, mas o mesmo arrogante de toda a vida”, chamando qualquer um pro pau. “Ele andou desafiante mais de 500 metros da rua principal do garimpo e dava até pra ouvir aquelas trilhas sonoras dos bang-bangs italianos. Só faltou o zunido das balas, né?” E a população? “Bem, aí não apareceu ninguém, que ninguém é doido. Preferimos ficar rindo por detrás das portas...”

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Símbolos avessos de àbaraM


Visto da Praça do Pescador, é como se o Tocantins
acabasse logo ali, depois da praia, num lago imenso
e tranqüilo ilhado em verde e nada mais houvesse,
por trás das nuvens e do pôr-do-sol,
senão os limites do tempo e da eternidade.
À direita, nos rumos de onde amanhece,
o rio também parece deter-se na cerca viva do verde
e na escuma do ar e do céu, onde, em certos dias,
aviões aparecem e desaparecem tão repentinamente
vindos do nada que é como se fossem pássaros mágicos
a entrar e sair da cartola invisível de Deus.
Por essas coisas, há quem diga ser esta terra
um fim em si mesma, lugar de viver
e morrer e de ficar, mesmo depois da morte,
retido no ouro fino da luz,
na seda de sussurros de águas e barcos,
entre pássaros e sombras, cheiro de frutas e peixe,
a recordar a infância, os amigos e vizinhos deixados para trás,
e que de repente acenam e sorriem de uma dobra da memória
antes de se desterrarem outra vez.

No limiar da praia, a tarde cai.
Cai a tarde no limiar da praia.

No banco da praça, entre o rio e as nuvens, ocorre-me
a instintiva compreensão de todas as possibilidades.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Solidão


Então me vens agora e é muito tarde...
Nos meus olhos nem encontro prantos!
Por ti assim vivi – quieto, sem alarde,
espera que se fez de ausência e desencantos.

Sei que és tu. Posso sentir-te. Tocar-te.
Mas, na sensibilidade nua do meu dedo,
no frêmito da pele, no segredo
fugaz da frase não pronunciada,
falta-me o mistério, já não pulsa a arte.

Desse amor voraz ficou-me só vertigem:
eu nada sou e me conformo com ser nada;
tenho o corpo ermo, a alma soterrada,
e minha carne é triste ainda por ser virgem.
(Ademir Braz, foto e texto - julho 3, 07)

Urbanejos

Ademir Braz (A Márcio Mazzini) A fila enorme boceja, mal se mexe. Colossal centopéia de tédio, Sucuri estressada, a fila enorme boceja:. humores febris azedam na xícara do chá de banco. Trinados pipilos chilreios... exalta-se a passarada eletrônica em bolsa e cós: sol sol sol dor! Sob céus luares A cobra grande, nem pixite. E o surdo autor Além dos anjos e do nojo, Regurgita. Eu odeio celulares! Fora o sol arrota flores Sobre o cheiro de cebola e bife